quinta-feira, 7 de maio de 2009

Leitura


Tenho aqui em mãos um livro que, só de olha-lo, já assusta. Trata-se de "O homem sem qualidades", do escritor austríaco, Robert Musil, um dos grandes gênios literários do Século XX.

Recordo que o livro me foi sugerido por um amigo, destes do tipo papa fina, que domina bem o uso de verbos e advérbios. Acertou na mosca: Gostei.

Na edição que tenho, o livro contém 1.273 páginas. É uma leitura muito densa, confesso que relutei por certo tempo em começar a desvendá-lo. Preguiça mesmo!

Mas, sabem como é, tudo seria melhor sem a danada da preguiça para nos atrapalhar. E o pior é que ela mora em nós, é uma tarefa diária tentar domá-la. Se não o fizermos, estaremos condenados a nos tornar uma espécie de estátua de sal, não veremos o futuro.

Voltando ao livro, já o tenho há alguns meses. Tenho mania de comprar livros e ir guardando para ler depois. Não funciona! Há que se cuidar de uma coisa de cada vez.

E a coisa da vez agora, certamente é a história de Ulrich, o nosso homem sem qualidades.

A edição que tenho, em volume único, divide-se em duas partes: Livro primeiro, com 123 capítulos e Livro segundo, com 58 capítulos. É uma obra grande, certamente. Magnífica em si, e olhem que a obra é inacabada. Musil não conseguiu conclui-la, em virtude do seu falecimento. Mesmo assim, O homem sem qualidades é considerado o livro do Século XX.

Como sabem, aqui no blog só há espaço para as boas companhias, hehe!

Bom, li os primeiros oito capítulos do livro e, bem, há trechos formidáveis. Brindo vocês com alguns trechos que marquei no livro:


"(...) Mas o possível não abrange apenas os sonhos de pessoas de nervos fracos, e sim os desígnios divinos ainda desconhecidos. (...) É a realidade que traz as possibilidades, e nada mais errado do que negar isso. (...) aquele que a quem permite fazer tudo o que deseja, em breve não sabe mais o que desejar.

(...) É um traço fundamental da nossa cultura o homem desconfiar profundamente de pessoas fora do seu próprio meio; portanto, não só um ariano considera um judeu um ser incompreensível e inferior, mas um jogador de futebol sente o mesmo diante de um pianista. Afinal, cada coisa só existe dentro de seus limites, afirmando-se como ato relativamente hostil contra o ambiente; sem Papa não teria havido Lutero, sem pagãos não teria havido Papa, por isso, não se pode negar que a mais intensa inclinação do homem por seus irmãos se baseia na repulsa deles. (...) A humanidade produz bíblias e armas, tuberculose e tuberculina. É uma democracia com reis e aristocratas; constrói igrejas, mas constrói universidades que as combatem; transforma mosteiros em casernas, mas nas casernas coloca capelões militares; naturalmente também coloca nas mãos de bandidos mangueiras de borracha recheadas de chumbo, para atormentarem outras pessoas, e depois prepara cobertores macios para as vítimas desses maus tratos, como as cobertas que agora envolviam Ulrich com carinho e proteção."


É isso, meus amigos. É sempre bom a gente ir percebendo o mundo, ir nos aventurando pela consciência humana. A consciência de cada um de nós é uma eterna luta entre deuses e demônios que nos habitam. O mau absoluto e o bem absoluto reside em nós. Logo, somos o resultado do (des) equilíbrio entre estas forças. Cabe a nós, então, educarmos a nossa consciência para trilhar os melhores caminhos pelas trilhas do mundo, ou, ao menos, os que julgarmos melhores.

Há os que prefiram jardins floridos; outros, no entanto, gostam de cemitérios cinzentos... Somos uns 6 bilhões de mundos habitando num mundo um tanto estranho.

É uma equação difícil, mas creio que é bem melhor ser matéria viva e sentir o vento batendo em nós, do que ser poeira e não sentir nada ao tocar os outros.


O homem sem qualidades marcou época, e continua mais atual que nunca. Afinal, mudam-se os homens, mas os sentimentos que os movem são os mesmos desde sempre.

Um comentário:

Leu disse...

"Grandes não são os homens, mas as expectativas que possam fluír de seus feitos."